Posts Tagged ‘Laerte’
Editorial: por uma mídia menos ordinária
Duas personalidades da cultura pop ganharam espaço recentemente na mídia por histórias de suas vidas privadas. Até aí, nada de mais. O jornalismo de celebridades é basicamente isso há uns, sei lá, setenta anos? No entanto, o que me chamou a atenção nestes casos envolvendo o quadrinista genial Laerte e a esperta cantora pop Lily Allen foram a abordagem positiva, quase positivista, da grande mídia.
Há alguns meses Laerte “deixou de ser” o criador dos Piratas do Tietê, dos Gatos e de Hugo para ser o maior expoente nacional da prática do crossdresser, ou como ele mesmo prefere abrasileirar, do travestismo – “o crossdresser é um travesti de classe média”, definiu ele muito bem, jogando com a carga negativa que o termo “travesti” ganhou, associado nos últimos anos a uma prostituição como saída para a sobrevivência.
Em 2007, Lily Allen havia engravidado do seu então namorado, Ed Simons, um dos Chemical Brothers. Perdeu o bebê em um aborto espontâneo quatro meses depois. Ela, obviamente, ficou triste com isso, mas a superação foi relativamente rápida. Agora em 2010, engravidou novamente, e tudo corria bem. Já com a barriga saliente de seis meses de gestação, revelava em entrevistas que estava realizando um sonho ao se tornar mãe. Mas novamente, perdeu o bebê. Depois do aborto, ela foi internada em um hospital de Londres com septicemia, um tipo de infecção sanguínea.
Não é novidade que a mídia gosta de narrar dramas particulares de pessoas públicas. Gosta simplesmente porque o público gosta também. Mas há uma lógica nesse sistema que mostra um pouco da perversidade velada que há em cada um de nós. Nós, público e mídia, criamos esses novos deuses chamados celebridades, pessoas ricas, famosas e intocáveis, para então destruí-los ao menor sinal de fraqueza, tal como uma ação ou hábito não aprovado por nossos valores. Se cansarmos de chutá-los, podemos até reendeusá-los novamente – na maioria dos casos, já depois de mortos.
Mas o que interpretei da cobertura da mídia sobre os casos de Laerte e Lily foi uma certa tolerância. Com o primeiro, percebo que o choque inicial com uma prática pouco difundida – a vida de crossdresser – logo se reverteu em uma oportunidade de usar o exemplo de uma pessoa pública e notoriamente talentosa como Laerte para esclarecer as pessoas sobre essa prática. Para isso, tiveram a contribuição do próprio quadrinista, que vem encarando tudo com incrível altivez e simpatia.
No caso de Lily, sabe-se que ela, até pouco tempo atrás, era um dos alvos favoritos dos jornais britânicos. Esse novo aborto poderia ser o gancho para surgir alguma notícia querendo ligar o caso com o conhecido estilo de vida baladeiro da moça. Mas pelo menos dois grandes jornais britânicos – o “Guardian” e o “The Sun” – têm coberto o drama de Lily com bastante seriedade. Como deveria ser sempre, aliás: afinal de contas, uma garota aparentemente saudável de 25 anos ter dois abortos espontâneos em três anos não é pouca coisa.
Pode ser reflexo dos novos tempos, nos quais personalidades desmentem notícias falsas simplesmente com uma conta no Twitter. Mas entendo que isso pode ser o começo de uma boa tendência: um jornalismo de celebridades mais responsável e menos circense. Pode ser ingenuidade minha – e deve ser mesmo – mas aguardemos o próximo grande problema pessoal de algum famoso para saber qualé.
Laerte crossdresser
Não é novidade que Laerte é bissexual. Mas essa de ser crossdresser é nova pra mim. Essa foto para a Bravo eu vi no BOL/Folha, mas até o Bleeding Cool noticiou, digaí.
Pelo visto o Blog da Muriel é mais autobiográfico do que eu imaginava…
Glauco (1957 – 2010)
Só por Glauco Villas Boas ter criado Geraldão, Geraldinho, Dona Marta, Doy Jorge, Casal Neuras, Ozetês e Zé do Apocalipse já seria o suficiente para se tornar um dos meus ídolos dos quadrinhos brasileiros. Mas além disso, foi redator de dois dos melhores programas da história da TV Globo, “TV Pirata” e “TV Colosso”. E foi parceiro de Laerte, Adão e Angeli no Los Tres Amigos. Por causa desse trabalho, o quarteto visitou o Recife no Festival Internacional de Humor e Quadrinhos em 2002, onde pude vê-lo e ouvi-lo de perto. Parecia ser um cara tão divertido quanto suas criações.
Foi assassinado em um assalto em casa que ainda vitimou seu filho Raoni, de 25 anos. Que triste fim para uma vida e carreira que ainda tinham tanto a oferecer.
Leia no site oficial de Glauco uma biografia caprichada sobre o cartunista. E essa incrível homenagem dos artistas e leitores do blog do Universo HQ.