QUADRISÔNICO

Cultura e vida pop a toda velocidade

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Quinze anos sem Chico Science

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Antes que o dia acabe, dedico aqui este humilde post a Francisco de Assis França, sujeito que não teve vergonha de expor as suas raízes pernambucanas em um momento em que ser pernambucano não era lá muito motivo de orgulho. Capitaneou ao lado do amigo Fred Zero Quatro um movimento que mudou a música pop brasileira para sempre e resgatou a relevância cultural do seu – e meu – Estado. A cidade não para.

Coloco aqui um especial da MTV, que na verdade é uma coletânea de tudo que a emissora gravou com Chico em sua curta carreira. Destaco o segundo vídeo, com um passeio meio atrapalhado que ele dá no Mercado de São José, em meados de 1994. A carreira já começava a decolar, mas o público ao redor ainda olhava para a figura com cara de “quem é esse maluco?”.









Written by Márcio Padrão

2 fevereiro 2012 at 20:00

10 shows sensacionais do Abril Pro Rock – parte 5

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2) Pato Fu (1995): Muita gente pode torcer o nariz para o Pato Fu obter a segunda colocação dessa lista, mas é preciso reconhecer os méritos. Assim como o Planet Hemp, a banda mineira ainda não era muito conhecida, mesmo depois de lançarem o disco de estreia em 1993 e prestes a chegar no segundo. Só que aquele trio de nerds malucos, que à época se viravam sem baterista “humano”, abriu a noite para uns poucos gatos pingados que nunca os tinha visto, já que era a estreia da banda em solo pernambucano. Tudo estava contra eles ali. Mas John, Fernanda e Ricardo chegaram com uma energia impressionante e jogaram com protohits dos dois primeiros discos que logo se tornariam clássicos dos anos 90. Mostraram aos conterrâneos do Skank – o headliner daquela noite – com quantos japoneses se faz um grande show. E assim como ocorreu com o Los Hermanos, a banda voltou muitas outras vezes ao Recife nos anos seguintes, e até hoje tem na cidade um de seus maiores públicos.

1) Chico Science & Nação Zumbi (1996): Chovia muito naquela sexta-feira de abril de 1996. Mas não importava: mesmo na época dava para sentir no ar que seria um dia especial. Foi o dia em que Mestre Ambrósio, Mundo Livre S/A e Chico Science & Nação Zumbi fariam uma noite inteira do Abril Pro Rock, e a noite seria só deles, sem bandas de abertura atrapalhando o momento. Era uma relação de troca: o festival foi grato àquelas bandas, pois elas foram fundamentais para dar nome ao evento; e os grupos, por sua vez, deviam isso ao APR, que impulsionou suas carreiras para o topo do pop nacional nos anos 90.

Era o quarto Abril Pro Rock, e o quarto onde Chico e banda tocariam. Até estava achando que já era hora de variar as atrações; pô, mais um show da Nação Zumbi pelo quarto ano seguido?, pensava eu. Mas de cara, o que diferenciou esta apresentação das anteriores era o repertório bem mais amplo – o “Afrociberdelia” havia acabado de sair – e a postura de palco muito mais madura da banda, que a essa altura já tinha tocado até no Central Park.

Foi difícil esperar por eles naquele toró. Fora que a chuva atrasou toda a programação, e CS&NZ subiu ao palco umas 3h30 da manhã, se não mais. Só que valeu a pena cada minuto de banho. O show teve uma energia incrível, e a banda não economizou no repertório, tocando praticamente todos os seus hits e muitas outras dos dois discos. E não dá para esquecer do momento em que Gilberto Gil fez dueto com Chico em “Maracatu Atômico”. Foi um momento emblemático por si só, pois eram duas gerações da música pop tentando converger na mesma canção, composta por Jorge Mautner; enquanto Gil se esforçava em cantá-la no tom original, Chico chegava na maciota tentando exibir a nova melodia que a Nação criou para a cover. Uma metáfora perfeita para a evolução musical proposta no manifesto manguebeat.

O show terminou com o dia raiando e a chuva acabando, por volta das 6h. O local estava tomado por poças d’água, com mães entrando para pegar seus filhos adolescentes que certamente sairiam dali muito gripados, caso a cachaça não tivesse sido suficiente. E foi ali que nos despedíamos, ainda sem saber, de dois marcos da música pop pernambucana: do Circo Maluco Beleza, que abrigou as quatro primeiras edições do APR (convenhamos, o evento era muito mais legal em um espaço pequeno), e do próprio Francisco de Assis França, que em 2 de fevereiro de 1997 deixaria este mundo em um triste acidente de carro para virar uma lenda do rock brasileiro.

Certamente há muitos outros shows a serem lembrados, mas deixo claro que essa lista tem muito de critérios pessoais. O legal mesmo foi puxar esses momentos daqueles cantos empoeirados da memória e pensar em quanto fomos felizes em tantas noites de barulho, ciranda, moshes e sorrisos. Longa vida ao Abril Pro Rock.

Written by Márcio Padrão

15 abril 2011 at 9:00

Quadros sonoros: modernizar o passado é mesmo uma evolução musical?

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Sim, Chico Science estava certo. Só está sendo bastante mal interpretado. Modernizar o passado é sim uma evolução musical, mas ele provavelmente se referia à proposta chave do movimento manguebeat de misturar sons e inventar estilos. Cada artista é uma esponja de influências que deve desaguar em uma mistura diferente quando é espremida. Isso não é novo, é básico na arte desde as pinturas rupestres, pelo menos. Mas exemplos recentes mostram que essa lição não só não foi absorvida, mas está passando por distorções.

Na semana passada, Lady Gaga lançou seu “novo” single, “Born This Way”, faixa-título de seu próximo disco. A batida forte, a melodia vocal positiva e “girl power”, a letra falando de uma necessária autoafirmação… tudo na música lembrou a todos de “Express Yourself”, clássico absoluto de Madonna lançado há mais de 20 anos. Chegou a um ponto em que o termo “Express Yourself” ficou no trending topics do Twitter no Brasil e no mundo durante todas as horas de hype do lançamento de “Born This Way”. Semelhanças são corriqueiras no pop, mas não recordo de nada semelhante, no sentido de um single de um superstar ser tão facilmente e imediatamente identificado como cópia direta de outro hit antigo.

Também na semana passada, Jorge Ben Jor afirmou em um show que se comoveu com a campanha iniciada por fãs no Facebook para que ele voltasse a tocar ao vivo o clássico disco “A Tábua de Esmeralda”, na íntegra e com seus arranjos originais, calcados no violão e sem a estridência elétrica que deu o tom de suas apresentações nos últimos 20 anos. Completou dizendo que já está ensaiando para o aguardado projeto (vídeo aqui) e provavelmente isso virará realidade em breve.

A princípio, a primeira notícia pode soar como picaretagem, e a segunda, algo louvável. Porque oras, já virou senso comum que Lady Gaga é uma clone assumida de Madonna – acrescentou como marca pessoal menos sexo e mais freakshow, mas ainda assim clone – e que Ben Jor tem mais é que cuidar direito de seu legado musical, visto que ele não cria nada digno de nota há uns 15 anos. Sim, concordo com as duas, principalmente com essa última. No entanto, as coisas hoje estão tão fora de referência que parece que ninguém se lembra do básico: não seria melhor ambos criarem boas músicas originais e pronto?

Poderia ainda citar os bilhões de “homenagens” do Black Eyed Peas, mas por enquanto fiquemos por aqui. Essa não é a primeira nem será a última vez que este blog abordará o assunto da falta de inovação na música. Mas o assunto só rende porque músicos estão fornecendo material. Chico Science falou, e de novo foi mal interpretado: a tendência geral agora é só “deixar tudo soando bem aos ouvidos”.

Written by Márcio Padrão

15 fevereiro 2011 at 15:00